Os professores da Universidade Gama Filho e da UniverCidade encontram-se em greve, pois o pagamento dos salários e a administração das duas instituições demitiu de uma só vez 600 profissionais. Essas demissões, entretanto, foram revertidas pela justiça devido a uma ação impetrada pelo Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio).
Essa e outras decisões da juíza responsável pelo caso são sistematicamente descumpridas pela direção das duas instituições de ensino, em claro desdém para com a justiça. Os estudantes, com o apoio de suas entidades, fazem seguidas manifestações em apoio aos professores e por temor de perderem o semestre, talvez até mesmo o ano letivo.
Fato significativo é que as duas instituições aumentaram em até 40% o valor de suas mensalidades este ano (há informações de que as haveria revisto, mas sem confirmação). Ganham mais, pagam menos e ainda não o fazem conforme estabelecem os contratos assinados com os profissionais e as determinações judiciais.
Diante dessas atitudes inexoravelmente surgem as perguntas: terão essas duas instituições capacidade para educar? Se a sua direção tem tamanho descaso com tudo e com todos, qual sua qualificação para ensinar? Ensinar o quê?
O que permeia as atitudes de sua direção é o interesse apenas pelo lucro, escondido em meio a burocracia que domina o país e a uma política educacional para o nível superior nefasta, que desde a ditadura militar-empresarial vem se agravando.
No ano passado, o grupo financeiro Galileo comprou as duas instituições. Como apenas a Universidade Gama Filho preenchia os requisitos necessários exigidos pelo Ministério da Educação, incorporou a UniverCidade, antes apenas um centro educacional. Assim as duas podem atuar de forma ampla, sem aumento dos custos. Não satisfeitos com essa operação, seus mentores demitiram vários professores com doutorado e mestrado, exigência para cumprir as determinações do MEC. Abaixaram ainda mais os seus custos em detrimento do nível de ensino.
Tudo isso foi feito em meio a um processo de “capitalização” do grupo, pois seu capital social inicial era de apenas dez mil reais. Para conseguir recursos lançou bônus no mercado e conseguiu, em curto espaço de tempo, atingir a cifra de cem milhões de reais. Isso mesmo: R$ 100 milhões. Os recursos foram obtidos principalmente junto a alguns bancos privados. Uma das garantias ofertadas foram as matrículas dos estudantes de Medicina (denominados de estoque de alunos). Calcularam o número de estudantes matriculados multiplicado pelo valor das mensalidades. A alta cifra é uma das garantias bancárias. A denúncia é do próprio Sinpro-Rio, que destacou profissionais e professores para estudar o ensino superior privado no Brasil já há algum tempo e, no caso particular, o grupo Galileo.
Estão tratando a educação como um negócio de baixa qualidade e altos lucros.
Não satisfeita a direção do grupo Galileo investe justamente contra o ensino de Medicina. Tenta transferir à força as aulas ministradas na Santa Casa, renomado hospital público localizado no centro do Rio de Janeiro, para um hospital de sua propriedade na Barra da Tijuca. Os professores médicos se recusaram a atender essa exigência por entender que seria prejudicial aos seus pacientes, pois perderiam o atendimento; e ao aprendizado dos seus estudantes, que acompanham com eles esses mesmos pacientes. Além disso, não se pode transferir o local de trabalho de um trabalhador à sua revelia. Devido a essa atitude o Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro entrou em ação e está atuando em parceria com o Sinpro-Rio.
Várias assembleias, manifestações, passeatas, atos e até mesmo uma aula pública já foram realizados por estudantes e professores, algumas vezes juntos, sem que a direção do grupo Galileo se sensibilize e entenda que não pode impor sua sanha por lucro à revelia da justiça, da eficiência administrativa, do bom senso e principalmente da Educação.
O fato não é isolado no Brasil. Em São Paulo o grupo Anhanguera também vem exacerbando em suas decisões, em uma clara política de financeirização da Educação Superior, com amplo prejuízo para o ensino.
O Sinpro-Rio com apoio da Federação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino no Estado do Rio de Janeiro (Feteerj) já denunciou essas irregularidades ao MEC e à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Aguarda-se que alguma atitude firme seja adotada pelos responsáveis.
Afonso Costa
Jornalista